Noite de verão, plantão tranquilo de domingo.
Com preguiça me ajeito em uma das macas da emergência, tentando encontrar o sono perdido.
Quem me dera: em poucos minutos pipocam pacientes por todos os lados.
Corro para atender a uma gritaria lá no boxe sete. Menino de 12 anos com queimadura em rosto e braços.
Pois é, no final de cada ano celebramos nossa ‘paz’ e ‘inteligência’ com bombas e fogos de artifício, que são o próprio inferno na terra quando se trata de queimaduras e mutilações.
Tento avaliar a extensão das queimaduras, mas logo percebo que isso é impossível. Os pais cobriram tudo com borra de café e margarina. Mais trabalho para a enfermagem, que vai precisar lavar tudo com escova, água e sabão. Mais dor para o paciente, que vai contar todas as estrelas da via láctea. Para diminuir o sofrimento, fizemos um analgésico porreta com uma hidratação vigorosa.
O problema dessas queimaduras não está apenas na intensidade da dor ou nas cicatrizes que elas costumam deixar. O que preocupa mesmo é o risco de infecções oportunistas, que entram pelo ferimento causado pela queimadura.
Claro, tudo fica bem mais complicado quando o primeiro socorro, ainda em casa, é realizado de maneira bizarra. Clara de ovo, hidratante, creme dental, pó de café, manteiga… são todas soluções mirabolantes que atrapalham muito o atendimento médico e que trazem consigo o risco de infecções.
Então, se você pretende ajudar de alguma maneira, não complique. Diante de um acidente desse tipo, primeiro afaste a fonte do calor, remova peças de roupa em contato com a queimadura e coloque o ferimento em água corrente por vários minutos. Depois proteja o local com um pano limpo e umedecido e procure rápida assistência médica.
Simples assim, sem complicar. Tão simples quanto entender que fogos de artifício deveriam ficar bem longe das crianças. E do resto das outras pessoas, também.
Neste final de ano pense nisso, até a próxima, se cuida.
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