Então é Natal…
E aí, este ano você foi bonzinho?
Mesmo com tanta gente indo pra praia nessa época de festas, o pronto-socorro estava lotado, empilhado pela dor e desconforto tão típicos de nossa celebrada saúde pública.
Talvez não haja lugar melhor para se conhecer uma sociedade do que um pronto-socorro. Os corredores da emergência revelam mais do que as nossas perdas e infortúnios. Também está ali o resultado de nossas burrices, diferenças, vícios, paixões, pecados e claro, nosso estranho gosto pela violência.
Imprudência, negligência, impaciência, dependência, intransigência, abstinência, não tem jeito… uma hora o resultado de nossas incoerências vem parar no hospital.
E pelo visto o plantão daquele dia não seria diferente.
Na imensa sala de observação quase não havia espaço para tanta muvuca. As macas estavam tão juntas, que uma ‘socialização’ forçada acontecia entre os pacientes. E lógico, a igualdade do SUS faz com que os ‘bonzinhos’ fiquem misturados entre algemados, bêbados e desenganados.
O que todos têm em comum?
Todos querem fugir dali.
Entre gritos, apelos e reclamações, percebi algo de diferente no ar. Era a porta do centro cirúrgico, que se abriu num sobressalto, trazendo a todos no pronto-socorro um som inconfundível.
Era simplesmente o choro sentido de um bebê, trazido todo enroladinho no colo de uma enfermeira. Para ser sincero, parecia muito mais um pãozinho de forma, todo apertadinho no pano cirúrgico.
Após um trabalho de parto complicado, a pediatria suspeitou de uma fratura de clavícula no recém-nascido, que agora precisava usar a sala de radiografia da emergência.
À medida que a enfermeira atravessava o longo corredor com o nosso pequeno paciente, um silêncio atento foi tomando conta de todos. Por um momento, a fragilidade e a força daquela criança surpreendeu e calou a todos por completo.
Sabe, a vida tem dessas coisas. A gente pensa que sabe dela.
Mas o milagre dela ainda nos encanta.
Um feliz natal para você
Pense nisso, até a próxima, se cuida.
“
* * *