Hoje 53 motociclistas vão morrer em nosso país.
O que você tem feito para tentar ficar fora da lista?
Noite apurada no pronto-socorro. Os socorristas quase derrubam a porta da emergência. Mais uma motocicleta prensada no corredor entre os carros. Marcelo, 26 anos, fraturas múltiplas, apresenta-se confuso, gemente e imobilizado na tábua.
Quando me encosto na maca para assinar a papelada e liberar os bombeiros, sinto o paciente agarrar o meu jaleco.
– Cuida da minha mulher… – sussurra assustado, por entre o colar cervical.
De sobressalto, olho para a ambulância entreaberta na plataforma escura e percebo outra maca com mais uma vítima, coberta com lençol. Olho perplexo para o socorrista, que discretamente faz um não com a cabeça.
Quer saber? A emergência envelhece a gente.
Vontade de colocar minha viola dentro da sacola.
Pouco importa se você usa a sua moto como ferramenta de trabalho, para transporte ou apenas pra passear. Gostaria apenas que guardasse essa parte da história: circular pelo corredor pode ser um péssimo negócio. De verdade.
Quase metade das colisões entre motocicletas e automóveis acontece no polêmico corredor entre os carros. E bota polêmico nisso. Sem o corredor, a motocicleta perde toda a sua dinâmica e razão de ser. Contudo, também é no corredor que o motociclista nos mostra toda a sua fragilidade. Associe esse ambiente hostil à necessidade de correr contra o tempo, coloque a velocidade acima da inteligência e pronto: eis mais uma vítima do trânsito.
Não tenha a inocência de acreditar que todos os condutores enxergam você, pois pensar assim chega a ser infantil. Mais que isso, entenda que há algo de impossível em tentar prever os movimentos dos outros veículos quando se está no corredor.
No final das contas, circular por entre os carros é uma solução que traz consigo riscos que poucos motociclistas parecem conhecer. Mas a lista dos 53 é renovada, todos os dias. E a minha esperança em você também. “
Pense nisso, até a próxima, se cuida.
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