Senta que lá vem história.
Há muitos anos, os bombeiros tinham um sargento marrento, daqueles que só te davam bom dia uns cinco anos depois de ter te conhecido. Contudo, era consenso que a sua presença nas ocorrências acalmava a todos, principalmente os soldados mais novos.
Conhecido como Pé de Algodão, aquele sargento era o condutor de viatura que todos desejam em uma emergência. O apelido veio não só porque era o derrubador de portas oficial do grupamento, mas porque dirigia como ninguém um auto-bomba de 12 toneladas. No trânsito, impressionava a todos com a sua gentileza e extremo cuidado para com as pessoas na rua. Além disso, te levava rápido e com segurança a lugares de Curitiba que nem a prefeitura sabia existir.
Naquela época meu amigo, era tudo na base do mapa da lista telefônica e o conhecimento necessário para ser um condutor dos bombeiros colocava qualquer taxista no chinelo. Não havia essa história de usar GPS ou então consultar mapas pela internet.
Hoje o tempo de deslocamento é bem menor, mas também nunca houve tantos atropelamentos e colisões envolvendo viaturas. Em nossa cidade, o destaque é para as canaletas de uso “exclusivo” dos ônibus, que há tempos foram invadidas por veículos que supostamente deveriam trafegar apenas em condição de emergência.
Hoje há tantos veículos na canaleta que – dependendo do horário – fica mais fácil você embarcar em um carro desses do que em um ônibus. Pior que isso, há casos de atropelamentos fatais em que essas viaturas trafegavam em velocidade incompatível com a via, sem sinalização sonora, tampouco luminosa.
Então me fala, por favor, qual o tipo de ocorrência que merece colocar em risco a vida de outras pessoas? Um incêndio em uma escola, um sequestro relâmpago, um baleado com pneumotórax, uma criança atropelada?
Seja sincero, vale a pena machucar ou matar alguém para salvar outra pessoa?
Quando os feridos desses acidentes vêm parar aqui no pronto-socorro, eu sempre penso no Pé de Algodão.
E quer saber?
As pessoas dessa cidade já têm motivos demais para ter medo.
Então, quando você acelerar a sua viatura pelas ruas, faça isso para o bem.
Apenas para o bem.
Pense nisso, até a próxima, se cuida.
“
* * *