Por sorte naquela noite não havia luar.
Sua esposa estava trabalhando e os vizinhos pareciam ocupados demais, com a última semana da novela.
Escova, sabão, esponja… coisa difícil remover todo aquele sangue de cima do capô. A grade, o farol e o para-brisa haviam sido destruídos com o impacto. A lataria parecia ter sido mastigada e depois cuspida. Como ele iria explicar aquela bagunça? Será que o cara da bicicleta tinha mesmo morrido?
E o pior, quanto custaria para consertar o carro?
Pois é.
Entre pedestres e ciclistas, hoje três pessoas serão atropeladas em Curitiba. Muitas chegarão ao hospital com ferimentos graves o suficiente para colocá-las a meio passo da morte. Traumatismo cranioencefálico, lesão medular, fraturas múltiplas, mutilações, hemorragias internas… sem exagero, tem dias que o nosso trânsito mais parece um filme de terror.
Mas você sabia que, de cada dez atropelamentos atendidos pelos bombeiros, em pelo menos um deles o motorista foge?
Sem dúvida, é uma atitude criminosa que revela a falta de caráter de muitos condutores. Ferir e não prestar auxílio é uma dessas aberrações que faz a gente se perguntar que tipo de bicho nós somos.
Na emergência médica se utiliza o conceito de ‘hora de ouro’, no qual qualquer minuto perdido no atendimento, pode condenar a vítima do atropelamento a sequelas profundas e até mesmo ao óbito. E graças a esses covardes, que não param para ajudar nem telefonam para o resgate, a hora de ouro simplesmente vai para o espaço.
Portanto, aqui vai o nosso obrigado a esses motoristas.
Enquanto fogem, o mundo se mostra cada vez pior.
Obrigado mesmo.
“
* * *