Aos poucos a noite vai tomando conta do plantão de sábado.
É quando uma ambulância dos bombeiros chega apressada, com suas luzes e sirenes exageradas. A bordo, imobilizado na prancha e com colar cervical, um senhor completamente coberto com cimento. Só consigo distingui-lo de uma estátua pelo branco dos olhos, e porque normalmente estátuas não têm o costume de gritar de dor.
Pois é.
Pedreiros, encanadores, eletricistas, carpinteiros, pintores… é no fim de semana que esses ‘profissionais’ resolvem reformar suas próprias casas e isso inclui, muitas vezes, uma visita indesejada ao pronto-socorro.
Dessa vez, seu Demétrio inventou de rebocar uma parede externa, no alto de seu sobrado. Num tropeço, rolou pelo telhado caindo de uns três metros de altura numa caixa de madeira, daquelas usadas para o preparo da argamassa.
O resultado? Diversas escoriações, luxação de quadril, fratura de duas vértebras lombares e cimento por toda parte, incluindo algumas cavidades do seu corpo.
Após analgesia endovenosa, radiografias e uma tomografia caprichada, seu Demétrio foi liberado para um banho na maca, antes de ser encaminhado para o centro cirúrgico.
Como o cimento já havia secado, a enfermagem levou quase uma hora para removê-lo e, quando terminou, o paciente estava com a pele toda avermelhada pela agressão química do produto.
Felizmente, no final das contas tudo deu certo.
Nosso homem de pedra teve sua coluna lombar fixada com placas de metal e três dias depois já estava em sua casa, pronto para novas reformas.
Seu Demétrio, preciso deixar registrado aqui o meu abraço. Peço perdão por qualquer coisa e agradeço por contaminar a todos aqui com o seu otimismo, bom humor e, claro, muito cimento.
“
* * *