Hoje, gostaria de te contar a história do Vinícius.
Foi na mesa de cirurgia que o bandido resolveu morrer.
Rosto, tórax, abdome… os disparos foram tantos e havia tanto sangue, que nem sabíamos por onde começar.
Para muitos, o nome do marginal pouco importa. Para outros, o mundo se tornou um lugar melhor sem a sua presença.
Vagabundo, meliante, ladrão… quem pediu para seguir o caminho mais fácil? Quem mandou escolher o lado errado?
Deve ter sido culpa da mãe, por ter trabalhado de sol a sol, deixando o moleque e seus irmãos largados por aí. Ou deve ter sido culpa do cara que era para ter sido seu pai, mas que há 16 anos achou mais fácil comprar uma passagem, que não previa a sua volta. Não mesmo, deve ter sido culpa do governo, por nos fazer acreditar diariamente que vivemos em um paraíso social. Ou deve ter sido culpa da velha professora, por nunca ter acreditado que ele poderia ser alguém na vida. Não mesmo, deve ter sido culpa é dos colegas de sala, por não entenderem os reais motivos dele nunca ter tido um uniforme. Ou deve então ter sido culpa dos falsos amigos, por terem apresentado pra ele um mundo de pequenos delitos e crimes. Não mesmo, deve ter sido culpa da namorada, por nunca ter entendido que ele falava sério quando dizia que precisava de ajuda. Ou deve ter sido culpa da cachaça, por ter levado momentaneamente para longe todos os seus problemas. Não, deve ter sido culpa é do frentista, por ter ligado para o 190, avisando que o posto estava sendo assaltado. Ou deve ter sido culpa do policial militar, por ter descarregado sua pistola durante uma abordagem desastrosa. Não, deve ter sido culpa da ambulância, por ter demorado tanto tempo para chegar. Ou deve ter sido culpa da enfermagem, por ter achado que não havia mais tempo para salvá-lo. Não mesmo, deve ter sido culpa da equipe médica, por ter tratado o rapaz desde o início como apenas um número de prontuário. Ou deve ter sido culpa minha, por não entender que ele merecia mais do meu respeito e esforço.
Eu sinto muito Vinícius.
Pela sua morte.
Pela sua vida.